Artigo da semana:
Na semana passada,
conversava com um primo e lembrávamos os tempos da escola. Entre as
reminiscências a hora do lanche e quão saborosa era a merenda escolar, em
meados dos anos 80, no pacato povoado Jacioca, em Bequimão. Do cardápio, o item
mais lembrado era um delicioso mingau lácteo sabor baunilha. Relembramos também
as almôndegas, a sopa…
– Nunca mais saboreei um
arroz com macarrão tão gostoso como aquele! Disse o primo.
– Os lanches eram realmente
muito saborosos. Concordei.
– Acho que era nossa fome
também que fazia a comida ainda mais deliciosa. Nós íamos para a escola, muitas
vezes, para nos alimentarmos melhor. Concluiu ele.
Fiz questão de relatar o
rápido diálogo para mostrar a importância da merenda escolar no ambiente da
escola pública. Nenhuma criança pode ter bom rendimento escolar sem estar bem
alimentada. Disto, por certo, poucos haverão de discordar.
Mas, nestes tempos obscuros
do nosso país, acontecem coisas capazes de fazer corar de vergonha até as mais
inoxidáveis panelas. Há poucos dias, São Paulo, maior cidade da América Latina,
protagonizou uma das cenas mais vexatórias de nossa história recente. Alunos
marcados nas mãos para não repetir o lanche escolar. Isso mesmo!
Na cidade mais rica e
desenvolvida do Brasil, alunos de escolas públicas são proibidos de repetir a
merenda escolar. Imagem degradante, bizarra, vergonhosa para a humanidade.
Pior, isto ocorreu no estado, onde administradores festejam o deus mercado.
O Brasil vivencia a estranha
experiência RobinHoodiana às avessas. O governante de plantão Michel Temer
retira dos pobres para dar aos ricos. Fez isso ao anistiar bilionária dívida
dos ruralistas e das grandes empresas com dívidas astronômicas, enquanto
penaliza os mais pobres a pagarem a conta, seja com desconto de dez reais no
salário mínimo ou com abusivo e ilegal reajuste nos preços dos combustíveis. Os
poderosos parecem decididos a perpetuar e ampliar a desigualdade social no
país. Mas, chegar ao cúmulo do absurdo de “ferrar” alunos nas escolas… Crianças
não podem, nem devem ser tratadas como gado. É indigno! É injusto! É desumano!
Antes, deveriam ser marcados
os contumazes corruptos, que pegos em tenebrosas transações são capazes de
escapar e se reinventar. Basta ver indigitados dirigentes de empresas públicas
do passado, hoje travestidos de gestores bem-sucedidos e modernos
empreendedores. Estes, sim, deveriam não apenas ser marcados, mas banidos da vida
pública para que nossas crianças não tenham que passar pelo constrangimento de
estudar em condições degradantes e sem merenda escolar.
Por experiência própria,
sempre sonhei com o dia em que a merenda escolar fosse também estendida para
alunos de ensino médio. Hoje, alegra-me ver que o Maranhão acessa, com décadas,
talvez séculos de atraso, o patamar de oferecer a estudantes de ensino médio
escolas em tempo integral e profissionalizante, que aliam a oferta de
conhecimento, ambientes dignos, com café, lanches, almoço e jantar para os
jovens alunos. Escolas dignas, que servem de inspiração para nosso país.
Radialista, jornalista.
Secretário adjunto de Comunicação Social e diretor-geral da Nova 1290 Timbira
AM.