A Grande São Luís
(região composta pela capital maranhense e os municípios de São José de
Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa) já contabiliza, somente no ano de 2015, o
terrível número de 1.000 mortes violentas intencionais.
A informação
consta no relatório sobre a violência na região, produzido pela Sociedade
Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), a partir do monitoramento dos veículos
de comunicação e dos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
“Diante deste
quadro dramático, e levando em consideração que a maioria das ocorrências
aconteceu em bairros da periferia, tendo como alvo a população pobre, considero
serem fundamentais mudanças estruturais urgentes, que alterem o quadro de
desigualdades”, avalia Joisiane Gamba, membro do conselho diretor da SMDH.
A advogada
destaca, ainda, que este número representa quase três vítimas fatais de crimes
violentos por dia na região metropolitana. A maior parte destas ocorrências –
mais de 77% – são homicídios dolosos. Também são contabilizados casos de
latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídios decorrentes de
intervenção policial, dentre outras situações.
“Destas mortes,
20,8% são pessoas entre 10 a 19 anos, e estes são dados apenas da Grande São
Luís. Todos nós estamos chamados a intervir, a nos indignarmos, a trocarmos a
tranquilidade dos condomínios fechados, a deixarmos de nos proteger atrás dos
muros, [apenas] vendo nossa cidade se deteriorar, a nossa juventude ser morta e
a população jovem e negra ser exterminada”, conclama a defensora de direitos
humanos.
“O governo precisa
deixar de gastar mais em aparato repressivo do que em educação, saúde, lazer,
moradia e trabalho. Os agentes de segurança e justiça têm que parar de tratar o
pobre como inimigo de estado, humilhando nossas crianças e adolescentes,
afastando-as cada vez mais das políticas públicas, e lhes apontando como
alternativas o cárcere ou o cemitério” critica.
Para o promotor de
Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques, os
dados demonstram que o poder público descumpre a lei que institui o Estatuto da
Igualdade Racial:
“A juventude negra
tem sido a maior vítima da violência letal. Isso demonstra que o poder público
não cumpre a política de prevenção dessa forma de violação de direitos, como
determina o Estatuto da Igualdade Racial. Para que [esta situação] não se torne
um etnocídio, é preciso garantir a segurança cidadã, a viabilização de
programas estaduais de proteção e o enfrentamento das questões criminógenas
estruturantes. Fiscalizar os sistemas de Segurança e de Justiça em favor da
dignidade humana, e não como mecanismo de dominação social, é o desafio da
cidadania”, aponta o promotor.
O depoimento do
pastor Ozéas de Araújo Ewerton Júnior, da Igreja Batista do Monte Castelo,
reflete a perplexidade com que a população vê a escalada da violência na ilha
de São Luís: “A nossa sociedade vivencia um grande paradoxo, mesmo com todos os
avanços econômicos, científicos e tecnológicos alcançados não se conseguiu
dirimir significativamente os dilemas e problemas sociais. [A violência] já se
tornou comum e banalizada. Não indigna, nem causa espanto. As estatísticas são
aterrorizadoras. […] Todos, sociedade e governo, somos responsáveis em alguma
medida por essa realidade cruel. Não é hora de acusarmos, é tempo de nos
juntarmos, caso contrário o ódio, a dor, a desesperança e a morte continuarão
dizimando vidas e famílias de nossa querida Ilha”.
Joisiane Gamba,
representante da SMDH, sintetiza: “Basta! Violência se enfrenta com indignação,
com reconhecimento de direitos, com distribuição de renda, com escola, com
cidadania. Precisamos assumir a dor da nossa cidade, e tirá-la desse caos de
sangue e horror em que a transformaram!”.