POR: ROBSON PAZ
O Brasil
viveu na última semana seu momento mais sublime até aqui nos jogos olímpicos do
Rio: a conquista da medalha de ouro pela judoca Rafaela Silva.
A vitória
consagradora mostrou a face de um Brasil que apesar das adversidades é capaz de
enfrentar e superar desafios. Conquistar o mais alto do pódio foi ainda mais
emblemático, depois do desabafo da atleta negra, da periferia, vítima de
preconceito racial, após os jogos olímpicos de Londres, 2012. Certeiro golpe na
intolerância, pois colocou no centro das atenções a onda de preconceito e
fascismo existente, nestes dias.
Após a
derrota, em 2012, a judoca da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, teve que
suportar o revés no esporte e a dor que calou na alma com a desumanidade
daqueles que a desrespeitaram de forma racista e vil.
Detratores
que Rafaela respondeu com trabalho, dedicação, altivez e resultado. Contudo, a
luta contra a intolerância no país está longe de ser finalizada e deve ser
permanente.
Pouco depois
da vitória da judoca brasileira, os intolerantes, desalmados e sem coração
atacaram a nadadora Joana Maranhão, após esta não lograr êxito na competição. A
motivação seria posicionamento político da atleta. Escondidos no anonimato das
redes praticaram atos execráveis a ponto de fazer apologia à violência sexual.
Numa referência ao abuso sofrido pela atleta na infância.
Atletas,
artistas e outras personalidades são a face mais visível das vítimas diárias de
comportamento reacionário, pueril, conservador, que ganhou amplitude com o
advento das redes sociais e infelizmente está impregnado em parte da população.
Atitudes que reiteram pensamento do filósofo italiano Umberto Eco: “as redes
deram voz a uma legião de imbecis”. “Antes, eles estavam restritos aos bares e
não prejudicavam a coletividade”.
Há um Brasil
que parece ainda não se libertou dos tempos da escravidão. Ignoram a realidade
do país, cuja maioria da população é negra. Nem os 54% de negros, os fazem
desistir de tratar o país como a casa grande e a senzala.
E se não
mais podem escravizar os negros praticam toda sorte de preconceitos racial, de
gênero, religioso e social.
Nosso país é
belo e único entre outras características por sua pluralidade de raças,
pacifismo, respeito às diferenças. Reconhecer a força, o talento e a
importância dos negros e da população de baixa renda na construção de nosso
país é valorizar nossa própria existência. Foi assim que tivemos ascensão
social de parte dos mais pobres, nas últimas décadas.
Respeito é o
mínimo que se espera aos silvas, gente do povo, conquistadores de feitos
inimagináveis que legam ao Brasil reconhecimento nacional e internacional. Que
a experiência de sediarmos as olimpíadas e o espírito de união e fraternidade
entre os povos contagiem nosso país. Precisamos dar um Ippon na intolerância.
Radialista,
jornalista. Subsecretário de Comunicação Social e Assuntos Políticos